O APRENDIZADO DA ARQUITETURA COM TERRA CRUA: UMA EXPERIÊNCIA NO CANTEIRO EXPERIMENTAL DA FAU USP

Resumen

É inerente ao instinto de sobrevivência, a preocupação com o habitat ou com o lugar onde morar. Os seres humanos têm em sua natureza a aptidão de, particular ou coletivamente, construir abrigos. Esta manifestação já se encontrava muito bem citada nos escritos do arquiteto romano, Vitrúvio: “nossos ancestrais, movidos pela necessidade, começavam uns a procurar abrigo utilizando ramos, outros a cavar alojamentos sob as elevações e outros a fazer, imitando as andorinhas, com barro e ramo das árvores, recintos nos quais pudessem se abrigar” (POLIÃO, 1999). Porém existe um intervalo que divide o fazer e a reflexão sobre o que se faz. Podemos construir por imitação ou seguindo ditames e fórmulas, assim como podemos construir refletindo sobre o que estamos fazendo, tornando este processo científico, crítico e evolutivo. As tecnologias de construção em terra crua, eficazes respostas a demandas habitacionais e adotadas pelo atual mercado mundial, vêm sendo estudadas profundamente em centros de pesquisa da arquitetura e do urbanismo. Tais técnicas, que desde então passaram por um processo experimental e de difusão oral ficaram à margem nas discussões acadêmicas e nos processos de legitimação no Brasil, interrompendo, assim o desenvolvimento técnico sem usufruir um conseqüente desenvolvimento industrial. Perdeu, com isso, o crédito. Constata-se, desta maneira, a inviabilidade da produção no Brasil, em larga escala, de obras em terra crua, caso não se desenvolva o processo de difusão das informações aferidas e estudadas dentro dos centros de formação e pesquisas. Este artigo mostrará e ilustrará uma experiência de aprendizado no Canteiro Experimental da FAU USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), no primeiro semestre de 2005, quando foi realizado um workshop que resultou na construção de sete pilares em taipa de pilão. Uma atividade que se iniciou na discussão do projeto, percorreu a escolha dos materiais, propiciou o estudo da tecnologia, desenvolvendo um desenho de formas, e finalmente, desdobrando na edificação do protótipo. Com a análise dos resultados foi possível avaliar dois diferentes aspectos: Os resultados plásticos, processuais, estruturais e formais dos elementos construídos; e a apropriação e desenvolvimento da técnica por parte dos alunos, processo dinâmico que possibilitou a reflexão científica sobre o que foi realizado.