PIXAIM: DESENHO DE TERRA SOBRE GRÃOS DE AREIA A COMUNIDADE DAS DUNAS DA FOZ DO SÃO FRANCISCO
Resumen
Na terra o povoado de Pixaim assentou o seu lugar sobre dunas de areia. Na margem alagoana da foz do rio São Francisco, a mobilidade da paisagem do povoado não é apenas resultado da transformação engendrada pelos moradores na cotidianidade. Em um lugar onde o vento constrói e reconstrói relevos, a paisagem tradutora da existência humana dialoga com a efemeridade. Em Pixaim, as casas construídas com as coisas que a terra dá duram em média 4 a 5 anos. Há pelo menos um século é assim: com uma ordenação que varia no tempo e no espaço, as casas de taipa não têm a intenção de atravessar o tempo, e sua importância está em tudo que guarda e evoca. A terra que em Pixaim modela o lugar urbano, na intimidade das areias, reserva surpresas que se revelam quando o vento sopra, escava o terreno e expõe o substrato de dunas antigas. Como um mecanismo diferenciado de recuperação de memória, a natureza em Pixaim devolve aos moradores porções mais íntimas de terra materializadas em antigos chãos de casa. Esta comunicação pretende destacar a humana diferença do povoado de Pixaim neste mundo maior do qual ele é parte, e apontar para a necessidade de se pensar uma prática no trato com o patrimônio, adequada à particularidade deste lugar especial pressupondo novas ferramentas e nova sensibilidade que incluam a prática da arquitetura da terra. Os caminhos institucionais para a preservação dos sinais patrimoniais do povoado têm se mostrado inadequados quando retraem gestos de maior longevidade com a terra no território de pertencimento, lugar onde o patrimônio por si já se faz quase imperceptível pela delicadeza de marcas constrangidas pela força do meio natural e pelo minimalismo de intervenções na paisagem.