ARQUITECTURA DE TERRA E TRAGÉDIA

  • Eduardo Carvalho
  • Francisco Freire
  • Luís Gama

Resumen

É indesmentível que a construção em terra encontrou um lugar no discurso contemporâneo por se enquadrar no grande tema da sustentabilidade. A sustentabilidade (ou mais precisamente o desenvolvimento sustentável) articula a relação problemática que uma sociedade tecnológica e capitalista tem com o meio natural. A construção, enquanto activa e violenta interveniente no meio natural, tem sido pressionada, neste contexto, a adoptar processos e materiais sustentáveis. Não sendo muito fácil discernir o que são processos e materiais sustentáveis, a adopção procede muitas vezes por uma mera adaptação retórica (em que os materiais naturais facilmente tomam parte). A arquitectura é determinada, em grande medida, por forças que lhe são externas e que estão em constante mutação: uma sociedade tecnológica, a exigência regulamentar de redução de consumos energéticos nos edifícios, a pressão da opinião pública em direcção às práticas sustentáveis. A arquitectura dá forma aos espaços de acordo com essas forças; económicas, sociais, legais, técnicas, etc. Assim, dará hoje forma a um contexto problemático de cada vez maior manipulação tecnológica da natureza e do próprio Homem e, por outro lado, das questões éticas que essas manipulações originam. Através da prática do nosso atelier de arquitectura, procuramos por em evidência o carácter trágico desta relação, utilizando materiais e processos naturais em confronto com materiais e processos tecnológicos. Na construção dos nossos projectos entram em acção esses dois actores e um coro constituído por construtores não especializados e voluntários – todos nós. Neste esquema, actores e coro, confrontam-se com o objectivo de transformar o sentimento de culpa e a ansiedade que a nossa civilização tecnológica carrega, numa oportunidade de catarse, criação e de auto-conhecimento. Embora as artes dramáticas convivam necessariamente com as artes do espaço, nem sempre o contrário é admitido. A arquitectura, enquanto cenário da vida, põe em jogo as tensões que lhe deram origem e que lhe dão sentido a cada momento. Poderá a arquitectura ser entendida como uma construção dramática? Somos tentados a afirmar que sim. Nesta pesquisa, o esquema trágico, conforme descrito na Poética de Aristóteles e no Nascimento da Tragédia de Nietzsche, irá guiar-nos através de uma leitura da arquitectura em terra, enquanto cenário de uma acção de cuja narrativa sabemos apenas que somos personagens.

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Publicado
2010-02-23
Cómo citar este artículo
Carvalho, E., Freire, F., & Gama, L. (2010). ARQUITECTURA DE TERRA E TRAGÉDIA. Memorias Del Seminario Iberoamericano De Arquitectura Y Construcción Con Tierra - SIACOT, (9). Recuperado a partir de https://revistas.udelar.edu.uy/OJS/index.php/msiacot/article/view/2378