SISTEMAS CONSTRUTIVOS DE RAIZ TRADICIONAL EM MOÇAMBIQUE: UMA ABORDAGEM
Resumen
A arquitectura vernácula em Moçambique, se nos reportarmos ao que podemos designar como o tipo de arquitectura projectada pelos habitantes de uma determinada região ou período histórico mediante o conhecimento empírico, a experiência de gerações anteriores e a experimentação, recorrendo, por conseguinte, aos materiais disponíveis na envolvente imediata é, basicamente, uma arquitectura pobre, de escassos recursos e soluções construtivas pouco eruditas, nomeadamente em zonas rurais. Talvez por isso, não tem merecido mais do que uma atenção quase episódica por parte dos investigadores, relegada, em grande parte, para o ramo da etnografia e da antropologia. E, no entanto, é em tipologias herdadas destes modelos ancestrais de habitação que grande parte da população moçambicana continua a residir. Este artigo pretende dar a conhecer a realidade actual da construção tradicional no Sul de Moçambique - com referências ao Norte e Centro - nomeadamente das designadas palhotas, fabricadas com materiais locais e à medida dos recursos existentes na região, destacando o papel dos revestimentos de terra que conferem a estas habitações maior resistência e inércia térmica; por outro lado, pretende-se igualmente apresentar a produção artesanal de tijolos que, numa zona localizada e devido às características do solo, assumem um papel importante na economia local. A palhota é, desde tempos imemoriais, o habitat de muitas populações africanas, aliando uma extrema simplicidade de construção à utilização de materiais facilmente acessíveis nas zonas circundantes; consoante o território em que se integram podem ser mais ou menos complexas, agrupar-se de formas diversas ou alcançar dimensões variáveis. Em Moçambique, é comum encontrarmos “aldeias” de palhotas que correspondem ao Habitat de uma única família, em que cada unidade corresponde a um membro da família, com algumas cabanas de maiores dimensões ou mais elaboradas destinadas a funções específicas: por exemplo, ao casal, à prática de ritos de iniciação na vida adulta para os adolescentes, etc.(Weule, 2000). O conjunto destas palhotas é protegido por uma cerca por vezes constituída simplesmente por arbustos espinhosos plantados ordeiramente (e extremamente eficazes em termos de protecção!) ou feitas com folhas de palmeira entrançadas ou paus dispostos verticalmente. Seguindo embora uma matriz comum, é grande a variedade de edificações rurais que genericamente denominamos de palhotas (fig. 1a), e que englobam desde a cabana mais elementar, construída com ramos de árvores (mangal, cajueiro, mangueira, bambu) e telhado de colmo, às denominadas construções de pau a pique (fig. 1b), que podem atingir dimensões consideráveis e acabamentos diversos. A utilização de um acabamento liso, obtido através da aplicação de uma camada de terra e água é comum nas zonas onde este material é mais abundante.