CONSTRUÇÃO COM TERRA NO ‘CENTRO AMBIENTAL DE CABAÇOS – TERRA, VENTO, FOGO E ÁGUA’

  • Ricardo Pires

Resumen

Em meados dos anos noventa, Emmanuel e Juliane Gounden mudam-se de armas e bagagens para a aldeia de Cabaços, no Concelho de Odemira. Sem habilitações profissionais na área da construção civil, mas fazendo uso de larga experiência prática, iniciam a sua actividade na recuperação de uma casa em taipa, existente num lote de terreno com cerca de um hectare e meio de área, que por essa altura adquirem. Quinze anos passados, a família Gounden conta agora, só na sua propriedade, com mais de dez edificações erguidas à base de terra e madeira: as casas Emil, Maya, Sammy e Tony – uma para cada filho, sendo que o mais velho tem hoje quinze anos de idade –, o seminário – uma casa com cozinha e sala comunitárias –, o templo – espaço de cura e meditação –, três casas de abrigo – para receber visitantes e aprendizes de construção –, uma casa em blocos de taipa – fruto de um dos vários cursos de construção em terra que ali tiveram lugar –, uma pequena sauna turca em terra crua (no exterior), e uma piscina, resultante do vazio criado pelas escavações de terra usada na construção das primeiras habitações. Contas feitas, a aldeia cresceu, a família está maior. Mas o que torna então, estas habitações unifamiliares, num paradigma interessante ao nível da construção em terra existente no nosso país? Digamos que, a grande particularidade destas habitações incide precisamente no facto de não se tratarem apenas de casas em terra – feitas a partir de materiais e técnicas não normalizadas –, mas sobretudo, por terem sido pensadas e (auto)realizadas de acordo com um modo de vida comunitário. Tratam-se, sem dúvida alguma, de construções de baixo impacto ambiental quer pela fácil integração e diálogo que estabelecem com a paisagem (rural) alentejana, quer pelos materiais naturais que as compõem, na sua maioria de origem local: terra batida, comprimida (adobe) ou misturada com palha, madeira, cortiça, canas, lã de ovelha, cal (viva, hidratada ou hidráulica), estrume de vaca, óleo de linhaça, soro de leite, água, etc. São casas de piso térreo, de tipologias simples e de custo económico reduzido, não só por tirarem partido da terra disponível no próprio lugar, mas também por fazerem uso de madeira, que não é de primeira qualidade, e reutilizarem portas e envidraçados. Contudo, beneficiam no seu espaço interior, de todo o luxo ao nível do conforto térmico e acústico. Para além disso, possuem uma grande vantagem: são edificações reversíveis, e por isso, sustentáveis. É justamente a procura de sustentabilidade na área da construção ecológica, que leva os Gounden, no ano de 2009, a constituírem-se enquanto associação juvenil (sem fins lucrativos), dando início ao “Centro Ambiental de Cabaços (CAC) – Terra, Vento, Fogo e Água”. Desde então, têm continuado a partilhar – com todos aqueles que por Cabaços passam – os seus conhecimentos práticos e teóricos, fruto do seu trabalho pessoal desenvolvido ao longo de vários anos. O objectivo desta comunicação é dar a conhecer o modo de construir da família Gounden aplicado em diversas edificações levantadas no CAC procurando estabelecer um paralelo, a partir deste modelo construtivo tão particular, com os conceitos de arquitecturas vernácula e contemporânea.

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Publicado
2010-02-23
Cómo citar este artículo
Pires, R. (2010). CONSTRUÇÃO COM TERRA NO ‘CENTRO AMBIENTAL DE CABAÇOS – TERRA, VENTO, FOGO E ÁGUA’. Memorias Del Seminario Iberoamericano De Arquitectura Y Construcción Con Tierra - SIACOT, (9). Recuperado a partir de https://revistas.udelar.edu.uy/OJS/index.php/msiacot/article/view/2375