CABANAS DE MATERIAIS VEGETAIS NA HERDADE DA COMPORTA TRADIÇÃO CONSTRUTIVA E NOVAS ABORDAGENS
Resumen
No litoral alentejano, ao longo da faixa arenosa entre a costa de Santo André e o rio Sado, muitas das habitações dos pescadores e dos trabalhadores rurais eram, até meados do século XX, constituídas por cabanas de materiais vegetais. Essas construções, de plantas rectangulares, eram compostas por estruturas de madeira e engradados de ramagens preenchidos por argamassas de terra que constituíam as paredes. Exteriormente, quer as paredes, quer as coberturas (também de madeira e forro de cana) apresentavam revestimento exterior de colmo. Os pavimentos eram de terra ciclicamente batida. Na Herdade da Comporta (uma propriedade de grandes dimensões localizada a Sul/ Sudeste da península de Tróia) essa tipologia foi amplamente utilizada pelas comunidades de trabalhadores que aí residiam. A existência de tantas construções desse tipo reflectia não só as extremas condições de pobreza em que viviam os trabalhadores da herdade, mas também a impossibilidade legal de construir casa própria. Muitas dessas construções desapareceram devido a abandono e destruição. No caso específico da Herdade da Comporta, esse fenómeno teve início na década de 60 do século XX (época em que começaram a ser construídas as primeiras casas de alvenaria para os trabalhadores da herdade), tendo-se agravado a partir de 1974, com a abertura da possibilidade de construção nos terrenos das zonas urbanas do Carvalhal e da Comporta. Contudo, nas últimas décadas tem-se assistido a uma nova tendência (por parte de alguns particulares e de promotores imobiliários) de revitalização destes modelos arquitectónicos, para fins turísticos e de veraneio. Nesta comunicação detalham-se as soluções construtivas utilizadas neste tipo de construções e apresenta-se uma síntese da situação actual das mesmas na área da Herdade da Comporta, com destaque para a freguesia do Carvalhal (Grândola). Aborda-se o problema do ponto de vista das construções antigas ainda existentes (incluindo descrições dos sistemas construtivos e dos materiais empregues), refere-se a evolução que essas tipologias têm sofrido ao longo das épocas e, finalmente, a apropriação que tem sido feita ao modelo para construções contemporâneas. Finalmente procuram apontar-se metodologias que permitam satisfazer algumas das exigências que actualmente se colocam a este tipo de construções, mantendo a sustentabilidade social e tecnológica da tipologia.